Certa vez no trabalho, quando ainda era analista judiciário no STJ, fiz chamado técnico para manutenção no computador que utilizava. O colega responsável pela manutenção dos computadores indagou se eu estava “logado”. De pronto respondi que não costumava fazer aquelas coisas, o que deixou o colega embaraçado e, se desculpando, refez a pergunta querendo saber se o computador estaria “logado” na rede do tribunal. Sorri para o colega e esclareci a ele que o computador que eu utilizava estava conectado na rede e não “logado”.
Ainda no STJ, em outra oportunidade, recebi convite de colegas da área de gestão de pessoas (recurso humanos para alguns) para participar de um “workshop”. Perguntei o que seria e, após vários minutos de explicação, consegui entender que se trataria de reunião de trabalho externa às unidades daquela corte.
Assistindo programa de entrevistas na televisão o apresentador, ao apresentar o entrevistado, expôs que este era o “CEO” de determinada empresa. Confesso que me senti ignorante naquele momento, pois nunca havia ouvido aquela palavra. Após algumas pesquisas descobri que aquela palavra esquisita era para identificar o indivíduo como o titular ou representante legal da empresa.
De volta à advocacia atendi um cliente que se disse proprietário de uma “startup”. Novamente me senti ignorante, pois em todos os meus anos de estudos de direito civil e direito empresarial, jamais havia ouvido aquela palavra. Humildemente pedi ao consulente que me explicasse o que significava aquela palavra. Após vários minutos de muita explicação pude entender que se tratava de empreendimentos inovadores comumente ligados a negócios virtuais, praticados por empresas que atuam a distância sem estabelecimento fixo, o que comumente chamam de “empresas fantasmas”.
Recebi a visita de um jovem colega advogado, de quem tive a honra de ter sido professor, ocasião em que perguntei em que área estava militando na advocacia. Em resposta o amigo me disse estar atuando com “compliance”, daí mais uma vez me senti completo ignorante. Perguntei o significado daquela palavra esquisita e, após muitas e muitas explicações, consegui entender se tratar de conformidade, isto é, direcionar atividades profissionais conforme as diretrizes de determinada instituição, algo relacionado a ética e produtividade, alinhamento de postura.
Outro dia no escritório uma colega associada me informou que havia “escaneado” um documento. Após alguns segundos de hesitação perguntei a ela se aquela palavra significaria que havia digitalizado o documento. De imediato a colega confirmou demonstrando certa surpresa com minha pergunta.
Após as experiências acima relatadas fiquei pensando a respeito dos meus conhecimentos da língua portuguesa. Anos de estudo para bem dominar o uso da língua pátria e hoje me deparo com pessoas que, seja por preguiça, seja por vaidade, seja por afã de inovar, estão criando dialetos esquisitos e deturpando nossa língua, tão rica e tão bela, como dizia o saudoso Ariano Suassuna.
Não estão falando nenhum idioma estrangeiro, mas enxertando palavras estrangeiras na nossa língua, talvez por falta de estudo ou de consulta ao velho e bom dicionário. Ou pior, utilizam palavras esquisitas e diferentes para vender produtos podres a incautos.
Concluindo, quanto mais aprendo a nossa bela e rica língua portuguesa, mais sinto que sou ignorante, porque essas palavras esquisitas não se encontram nos dicionários.