Todo homem tem suas necessidades pessoais, tanto de subsistência, quanto as de cunho moral. Há o amor de si, a piedade e o amor próprio. A busca da melhor qualidade de vida é constante durante toda a existência humana. Mas em convívio social existem as necessidades comuns entre os homens, também de natureza material e moral. O coletivo reflete no pessoal e este reflete naquele, havendo que bem ser identificados.
Todos precisam de recursos naturais para existir, seja o acesso a água, seja o acesso aos alimentos. Também há a necessidade de abrigo e de proteção contra intempéries e contra a violência externa. Mas há no homem o amor de si, a auto valorização de sua condição de ser vivo, de ente a habitar o orbe. Esse amor de si mesmo impulsiona o homem a continuar existindo e valorizando esta existência, também leva o homem a valorizar a vida do seu semelhante. Como condição de natureza, inerente à existência, como qualquer outro animal, o homem também é incapaz de suportar a agonia de outrem, o que se leva à conclusão de que a piedade é condição natural da vida, pois nenhum ser vivo acompanha a dor de outrem sem nada sentir. Também no campo moral há o amor próprio, isto é, o homem se coloca à frente de tudo e de todos, o que caracteriza severo vício de comportamento e leva a sentimentos negativos, como a raiva, o ciúme, a inveja, a vergonha e o remorso. Estes sentimentos são a consequência da vaidade, do egoísmo, do autoritarismo e da arrogância.
O conjunto de condições acima constituirão o que se chama de vontade particular, tanto no sentido positivo, quanto no sentido negativo. Esta vontade particular é que moldará o indivíduo perante os seus pares na vida em sociedade, pois todos se identificam e são identificados no meio, todos influenciam e são influenciados pela sociedade, o que se pode chamar de relação social.
Dada a condição de ser humano há a necessidade natural, inerente à vida. Ar puro, água potável, acesso a alimentos, abrigo, proteção, saúde, educação, tecnologia e livre circulação, são necessidades comuns a todos os homens, que em sociedade passam a ser mutuamente responsáveis, uns pelos outros.
As sociedades atuais, mais complexas, trazem em si também a necessidade do desenvolvimento econômico e produtivo, como também o desenvolvimento tecnológico, que proporcione conforto, longevidade e melhora da qualidade de vida. O conjunto das necessidades e ações comuns a toda coletividade, as decisões sobre os rumos e prioridades de ações do grupo, constituem o que se chama vontade geral, isto é, a gestão e atendimento às demandas da sociedade como um todo.
Quando o amor próprio se impõe ao coletivo, quando se estabelecem privilégios entre um ou alguns em detrimento dos demais, quando a corrupção se instala ou, ainda, quando o governo impõe restrições abusivas à população, haverá conflito entre a vontade particular e a vontade geral, pois a vontade de muitos deve se impor à vontade de alguns ou, até mesmo, de um só.
O antagonismo entre a vontade particular e a vontade geral há que ser sistematicamente evitado, seja através da aplicação de sanções normativas a um ou a alguns, seja através da contenção de convulsões por parte das forças públicas ou, ainda, pela manifestação social que venha impor a líderes e governantes que restabeleçam a ordem. A vigilância diuturna por parte dos cidadãos, bem como o intenso combate à corrupção e desvios de conduta, são ferramentas importantes para evitar o antagonismo em questão.